Gays e o ódio pelas divas pop

Home / gay / Gays e o ódio pelas divas pop

Menu do Conteúdo

O fascínio que muitos homens gays sentem por grandes divas pop como Lady Gaga, Beyoncé ou Madonna é um fenômeno cultural poderoso. Essas artistas representam muito mais do que música: elas são vistas como símbolos de força, resiliência e liberdade.

No entanto, essa paixão intensa esconde um lado complexo e, às vezes, tóxico. Quando a admiração vira idolatria cega, surge o fandom tóxico – aquele ódio feroz direcionado a divas rivais.

Este artigo aprofunda a análise psicológica dessa relação, explorando como a busca por apoio emocional pode, paradoxalmente, se transformar em um obstáculo para a própria saúde mental.

O que é um “Fandom”?

O termo fandom é a forma abreviada de “fan kingdom” (reino de fãs). Em uma linguagem simples, fandom é a comunidade, o grupo social, de pessoas que compartilham uma paixão obsessiva por uma celebridade, obra ou artista.

No contexto das divas pop, o fandom é o espaço onde os fãs se reúnem (geralmente online) para celebrar, consumir e, crucialmente, defender o ídolo. É nesse ambiente coletivo que a identificação emocional se intensifica, podendo levar aos conflitos analisados abaixo.

A Diva como “Espelho de Poder”: A Identificação Psicológica

Para entender a força desse vínculo, a psicologia explora o conceito de identificação.

Por que a diva importa tanto?

Para um homem gay que cresce em um mundo que o julga, a diva pop se torna um “espelho de poder”.

  • Superação e Marginalização: A maioria das divas tem narrativas de superação de grandes desafios. Essa luta ressoa diretamente com a experiência de ser marginalizado. O fã projeta na diva a força que ele gostaria de ter para lidar com o preconceito.
  • A “Mãe Simbólica” de Holding: Na Psicanálise, existe o conceito de holding – o ato de sustentar e proteger. A diva, com sua presença onipresente e poderosa, atua como uma figura materna simbólica que oferece um espaço de sustentação emocional contra a rejeição social.
  • Diluição da Dor: Nos shows ou na comunidade online, a dor individual de ser gay em uma sociedade heteronormativa se dissolve na catarse e na grandiosidade do ícone. O fã sente que não está sozinho.

Terapia LGBT online? Tenha apoio especializado.

O Salto para a Obsessão: Conectando com a Homofobia Internalizada

A admiração se torna problemática quando a fonte de valor do indivíduo é terceirizada – ou seja, quando o fã passa a valer o que a sua diva vale. É aqui que entra a homofobia internalizada (HI).

A HI não resolvida faz com que o indivíduo tenha dificuldade em construir a autoestima a partir de si mesmo. A força é buscada fora, na artista.

  • Idolatria Cega: O fã precisa que a diva seja perfeita e invencível para que ele próprio se sinta seguro. Qualquer crítica à artista favorita é sentida como uma crítica pessoal, uma ameaça ao seu próprio valor.
  • Projeção da Insegurança: O ódio e os ataques a outras divas ou fandoms são, muitas vezes, uma projeção da própria insegurança e rigidez. Ao atacar a rival, o fã tenta garantir que o seu “espelho de poder” permaneça intacto.

O Fandom Tóxico sob a Lente da TCC

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) explica como essa dinâmica vira um ciclo disfuncional que impede o amadurecimento emocional:

Conceito da TCCO que acontece no Fandom Tóxico
Pensamento DicotômicoA visão “tudo ou nada” se cristaliza: “Minha diva é a única, as outras são lixo”. Isso reforça padrões de pensamento rígidos e intolerantes que dificultam a aceitação da complexidade do mundo real.
Validação IntergrupalO reforço positivo (aprovação e senso de pertencimento) vindo da comunidade de fãs (o fandom) é tão forte que o indivíduo se torna viciado na dinâmica de grupo, priorizando a lealdade ao ícone sobre suas próprias necessidades.
Evitação ExperiencialO indivíduo usa a obsessão pela diva como uma válvula de escape para não encarar seus problemas reais (solidão, baixa autoestima, dificuldades na vida). A energia é gasta defendendo o ícone em vez de ser investida no autocrescimento.

O Caminho para a Autonomia: Ressignificando a Adoração

O problema não é gostar de divas, mas sim o apego excessivo que resulta na paralisação do crescimento pessoal.

A chave é ressignificar essa relação:

  • De Ícone a Inspiração: A diva deve ser vista como uma inspiração de sucesso, e não como uma muleta psicológica. A força que você admira nela precisa ser construída dentro de você.
  • O “Eu” no Palco: A paixão e a catarse são válidas, mas o verdadeiro empoderamento acontece quando o foco volta para a sua própria vida. Quem você é e o que você constrói quando a música para?

Nenhuma diva pode nos salvar de nós mesmos. A autonomia emocional é conquistada quando você se torna o protagonista da sua própria história.

Se você sente que a devoção a um ídolo está gerando conflito, ansiedade ou substituindo o foco no seu próprio crescimento, procure ajuda.

Lembre-se: somos uma clínica especializada em saúde mental para pessoas LGBT+, focada em te ajudar a construir a sua própria força interior. Clique aqui e conheça nossos planos.

Compartilhe esse post com quem precisa:


Lucas De Vito

Lucas de Vito é psicólogo clínico especializado no atendimento à comunidade LGBT, com foco em questões de sexualidade, autoestima, relacionamentos e saúde mental. Com uma abordagem acolhedora e baseada na terapia afirmativa, ele oferece um espaço seguro, sem julgamentos, para que cada pessoa possa se expressar com autenticidade e desenvolver uma vida mais leve e saudável.